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O tratamento de conservação em negativos de vidro no MIS SP

O Museu da Imagem e do Som possui coleções de grande importância para pesquisas sobre o desenvolvimento dos processos fotográficos históricos.

Em 2004, o Museu recebeu uma série de negativos de vidro quebrados, trincados e com presença de fungo. Segundo o doador, trata-se de registros pessoais e do movimento constitucionalista de 1932. Assim, apesar do estado de conservação, os documentos foram incorporados ao acervo museológico em virtude do seu valor histórico e da especificidade do suporte fotográfico.

AS DESCOBERTAS DA FOTOGRAFIA

Os processos fotográficos históricos oferecem perspectivas significativas enquanto documento visual e material, remetendo-se ao curso de suas transformações técnicas e científicas. Assim, Boris Kossoy afirma que o crescente consumo da fotografia estimulou seu gradativo aperfeiçoamento técnico e a difusão de diferentes métodos e materiais. Como parte desse processo, podemos destacar o uso de placas de vidro à emulsão de gelatina e sais de prata, que proporcionou consideráveis avanços em razão das suas vantagens físico-químicas.

Em 1822, Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) chegou a utilizar o vidro como suporte da imagem em alguns de seus primeiros experimentos. Por ser um material transparente e translúcido, a partir de meados do século 19, sua utilização foi ampliada possibilitando a produção de matrizes fotográficas - os chamados negativos - mais definidas do que as placas de metal ou papel.

Já a utilização da gelatina foi introduzida por Richard Leach Maddox (1816-1902), em 1871. Esse processo ficou conhecido como placa seca, em oposição às placas de colódio úmido, que precisavam ser expostas à luz logo após a sensibilização em solução de nitrato de prata. Dessa forma, a produção de placas pré-sensibilizadas com tal emulsão facilitou e ampliou a prática fotográfica, uma vez que exigia menos intervenções do fotógrafo.

Além disso, o uso da gelatina proporcionou uma notável transformação no processo fotográfico com o aumento na sensibilidade das placas, o que trouxe a diminuição do tempo de exposição. Com isso, essa técnica passou a ser promovida comercialmente como “instantânea”, sendo assim, uma forma eficaz de propaganda para os “retratos instantâneos”.

Figura 1 | 9cm x 12cm

Figura 2 | 9cm x 12cm

O TRATAMENTO DE CONSERVAÇÃO

A primeira etapa do processo consiste no diagnóstico do estado de conservação, com o objetivo de indicar o tratamento mais adequado.

Para estes objetos, a estabilização dos fragmentos deve ser antecedida por um processo de higienização. Assim como todo processo de conservação, este procedimento segue o princípio de reversibilidade que considera as marcas da ação do tempo como parte da história do documento.

Cada superfície requer um tratamento de higienização diferente. A face que contém a emulsão fotossensível deve ser higienizada apenas com pincel assoprador. É facilmente identificada por apresentar um aspecto opaco com um reflexo levemente azulado, resultado do processo de oxidação da prata. Já a superfície de vidro requer o uso de solvente para uma higienização adequada.

Figura 3 | Processo de oxidação conhecido também como espelho de prata

Figura 4 | Material utilizado na higienização: alcool etílico 75%, pincel assoprador, trinchas, swab (haste com algodão), espátula, bisturi e pinça.

Figuras 5 | Aplicação da fita adesiva de ph neutro

Assim, este método de estabilização auxilia no processo de documentação, possibilitando a visualização da imagem fotográfica de forma completa. Com isso, é possível até mesmo reproduzir os negativos digitalmente, gerando imagens invertidas, o que certamente, poderá viabilizar futuras pesquisas.

Figura 6 | Negativos invertidos digitalmente

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BIBLIOGRAFIA

BARUKI, Sandra; NAZARETH, Coury; HORTA, J. C. Cadernos técnicos de conservação fotográfica, 1. Rio de Janeiro: Funarte, 2004.

BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Tradução: Beatriz Mugayar Kuhl. Carapicuíba: Ateliê Editorial, 2008.

KOSSOY, Boris. Fotografia & História. Cotia: Ateliê Editorial, 2001.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

VALVERDE, M. F. Photographic Negatives: Nature and Evolution of Processes. George Eastman House, 2005.

WHITMAN, Katharine. The History and Conservation of Glass Supported Photographs. Rochester, NY: Advanced Residency Program in Photograph Preservation, George Eastman House, Image Permanence Institute. 2007.

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Você tem alguma informação que possa colaborar com a pesquisa? Mande um e-mail para midiateca@mis-sp.org.br.

Postado em 29/04/2019

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